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Crítica: Ação, respostas – e sexo – marcam desfecho satisfatório de Sense8

Crítica do episódio final de Sense8, da Netflix.

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ATENÇÃO, ESTE TEXTO CONTÉM LEVES SPOILERS SOBRE O FINAL DE SENSE8

É possível que Sense8 vire uma série cult nos próximos anos, daquelas veneradas e referenciadas frequentemente em textos sobre séries de ficção científica.

As irmãs Wachowski são experientes nesta área de criar universos complexos que, com o tempo, ganham o devido espaço e respeito. Até mesmo Speed Racer, o mais problemático de seus filmes, começa a ganhar, aos poucos, aura de cult. Assim, Sense8 provavelmente será um daqueles programas com poucas temporadas que será lembrado por anos como algo que deveria durar por mais tempo.

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A verdade é que Sense8 durou o tempo que tinha que durar para ser o que é…

Firefly, Freaks and Geeks e tantos outros programas que duraram um ou dois anos são guardados com carinhos justamente por serem ótimos dentro do tempo em que existiram.

Por mais que muita gente peça por mais capítulos até hoje, o fato é que o cancelamento foi algo bom para estes projetos. Não que Sense8 se compare com uma destas séries recém citadas; o programa da Netflix, apesar de todas as qualidades, é irregular, tendo tropeçado aqui e ali no decorrer de suas duas temporadas e especiais.

Como um todo, entretanto, a criação das Wachowski é muito mais positiva do que negativa e, no fim, os erros surgem diminutos se comparados à grande jornada percorrida.

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Muitas ideias e pouco tempo para desenvolver todas.

No desfecho especial de duas horas e meia, os sensates se reúnem para resgatar Wolfgang, prisioneiro da OPB, enquanto discutem sobre o que fazer com Sussurros – agora sob custódia do cluster. Isso, porém, é apenas o ponto de partida. O episódio final é claramente dividido em duas partes, sendo a primeira destinada ao resgate e a segunda à uma trama totalmente nova. Fica claro, portanto, que a finale é uma condensação de várias ideias desenvolvidas pelas Wachowski e seu time de roteiristas.

É óbvio que a inclusão da “Mãe” e toda a trama derradeira seria desenvolvida em uma temporada completa. Com o cancelamento, porém, todas estas novas tramas e personagens, pensados para mais alguns anos, foram jogados em um roteiro com pouco mais de 120 minutos.

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O resultado tem seus pontos positivos: com tantas informações e ideias, o ritmo é alucinante. Entre uma cena de ação e outra, o episódio mergulha em explicações e resoluções bem amarradas. É inevitável, contudo, que alguns problemas se evidenciem: é muita coisa para ser desenrolada em apenas um especial. Esse excesso leva à diálogos expositivos, quase vergonhosos, que rendem atuações precárias.

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Não se trata de um problema no elenco, que é inegavelmente talentoso, mas do roteiro. Algumas falas e situações jogam os atores em enrascadas embaraçosas, e uma das que mais sofre é Kala, personagem e atriz mais limitada do grupo. A avalanche de ideias e informações ainda causa um problema grave: nem todos os sensates são apresentados de forma adequada. E a maior decepção é relacionada a Lito. Ele, que era um dos melhores e mais destacados personagens da série, mal apareceu na finale, e não teve praticamente nenhuma importância na resolução.

A impressão que fica é que Miguel Ángel Silvestre, intérprete de Lito, não pôde comparecer às gravações, ou foi deliberadamente cortado na edição. Em uma das cenas mais absurdas, em um momento chave, Lito é ridiculamente cortado do quadro. Enquanto sete dos sensates aparecem imponentes, apenas o braço do mexicano é visto na lateral esquerda. Descuido da direção ou indício de problemas maiores?

Imagem: Netflix/Divulgação

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Beleza, sensualidade e atualidade sem perder a classe!

Toda a correria (além do ritmo frenético, o capítulo foi escrito, filmado e finalizado em pouquíssimo tempo) não prejudicou a parte técnica. Lana Wachowski, experiente em grandes épicos de ação e efeitos visuais, sabe como filmar. Assim, sua câmera se infiltra nas sequências com naturalidade, deixando muita superprodução cinematográfica para trás. A diretora sabe como comandar embates físicos e perseguições, e já se mostrou hábil ao construir cenas complexas, com grande número de personagens e locações. Além disso, a edição segue elogiável, revelando-se fluída não só nos momentos mais enérgicos, mas nos intrincados diálogos entre os sensates que geralmente ocorrem em mais de um lugar.

Analisando friamente, o cancelamento foi uma coisa boa para Sense8. A segunda temporada já vinha se arrastando em algumas tramas fracas, perdendo o ritmo frequentemente. A série é daquelas que funciona melhor em doses menores, seja com menos episódios ou número reduzido de temporadas. Não se trata de um programa para durar cinco anos ou mais, apesar de sua sólida e extensa mitologia. O episódio final funciona justamente por ser objetivo, por focar no grupo ao invés de cada personagem isoladamente.

Sempre que tentou desenvolver os sensates separadamente, a série errou a mão ao negligenciar um e outro personagem. Quando mirava no conjunto, entretanto, o show acertava o ponto. Com isso, ao se debruçar na dinâmica do grupo e no funcionamento do cluster como um todo, a finale faz um bom trabalho. Os dilemas pessoais foram citados, mas não roubaram tempo e espaço do já tumultuado desfecho. A graça de Sense8 sempre foi ver aquelas oito pessoas interagindo e descobrindo suas habilidades; nada melhor do que isso para encerrar a saga.

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E por falar em encerramento…

… o especial acaba com uma bela sequência que faz referência a tudo que a série pregou em sua rápida caminhada. Ao trazer todos os personagens principais ao som de Experience, de Ludovico Einaudi, Sense8 salienta mais uma vez o seu perfil popular com leves acenos ao clássico. É belo e sensual, mas jamais vulgar. É entretenimento e contemporaneidade feita com qualidade; é diversão sem perder a classe. É, apesar de tudo, cult.

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Sense1 : Um dos melhores desfechos foi o de Kala, o que não deixa de surpreender, já que ela foi uma das personagens mais negligenciadas na série. Sua conclusão ao lado de Wolf e Rajan é complexa e interessante, abrindo espaço para discussões e deixando tudo menos óbvio.

Sense2 : Abrupto o final de Sussurros. O maior vilão da série encontra um desfecho frio e rápido demais.

Sense3 : Destaques para Noomi, Kala e Wolf, protagonistas do episódio. Pena que Lito tenha sido deixado de lado logo agora.

Sense4 : linda a homenagem final: “para nossos fãs”. Foram os fãs que levaram Sense8 até aqui. Foram eles que garantiram este desfecho e são eles que levarão o nome da série através dos anos.

Sense5 : Obrigado a quem acompanhou os textos de Sense8 nos últimos anos. Valeu a pena.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.

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