Decameron | O que é História real e mentira na série da Netflix

A série Decameron, lançada pela Netflix em 25 de julho, se baseia na coleção de contos de Giovanni Boccaccio, escrita no século XIV. No entanto, o criador da série deixou claro que quem espera uma adaptação fiel das histórias de Boccaccio poderá se decepcionar.

A essência da série vem da obra de Boccaccio, mas as histórias, os personagens e seus desfechos foram totalmente modificados para criar uma nova narrativa.

Contexto Histórico e Temático de Decameron

Assim como nos contos de Boccaccio, Decameron mostra um grupo de nobres que foge para um palácio em Fiesole para escapar da peste bubônica. A peste, conhecida como Peste Negra, foi um evento real que devastou a Europa medieval, matando milhões de pessoas.

A doença se espalhou por pulgas que vinham de roedores como ratos e esquilos. Naquela época, a ciência não estava avançada, e a falta de conhecimento gerava muitas superstições e pânico entre a população. Muitos acreditavam que a peste era uma maldição divina, levando a uma sociedade caótica e desinformada.

A Peste e Seus Efeitos

Na série Decameron, os pacientes desenvolvem linfonodos pelo corpo, têm febres altas e dores de cabeça. Acredita-se que cerca de 25 milhões de pessoas morreram devido à peste. Embora Boccaccio tenha se inspirado em contos populares, suas histórias refletiam sua visão sobre a sociedade, as normas sociais e o romance da época.

Ao invés de ser uma adaptação fiel, a série aborda várias questões sociais prevalentes no século XIV, tecendo-as de maneira leve e humorística em uma série de oito episódios. Cada personagem traz suas próprias experiências, motivações e intenções, conectadas por uma história central.

Nesse caso, o objetivo dos personagens é controlar a vila e se estabelecer ali após descobrirem que o verdadeiro dono, Signor Leonardo, sucumbiu à peste antes que os visitantes chegassem.

Temas Principais

Dois temas principais permeiam a série Decameron: o tratamento da classe trabalhadora pelos nobres e a dependência financeira das mulheres em relação aos homens.

No século XIV, mesmo que uma mulher quisesse ser financeiramente independente, ela não tinha permissão para isso. O casamento era a única opção para garantir o futuro, e vemos como Filomena e Pampinea estavam desesperadas para se casar com Leonardo.

Um momento revelador na série é quando Licisca pergunta a Filomena o que faria se não gostasse da companhia de Leonardo. A resposta de Filomena mostra que o casamento era feito pelos motivos errados, e sentimentos como amor e companheirismo eram irrelevantes.

Filomena revela que, ao crescer, aprendeu a tratar Licisca como serva, mesmo querendo ser gentil. Isso reflete a mentalidade da classe dominante, onde os servos eram tratados de maneira desumana.

Conflitos e Personagens

A relação entre Pampinea e Misia também destaca a desigualdade social. Misia, por exemplo, segue cegamente todas as ordens de Pampinea, perdendo sua dignidade no processo. Pampinea, então, personificação do egoísmo, usa Misia como uma mercadoria. Embora Misia não reclame, a raiva acumulada dentro dela é evidente. Ela sabe que, mesmo não sendo da realeza, merece ser tratada com respeito.

Embora Decameron toque em várias questões sociais e tente ser o mais humorístico possível, a falta de um conflito central forte pode fazer com que a série pareça menos envolvente. No entanto, ela oferece uma visão interessante da sociedade medieval através de uma lente contemporânea, destacando temas que ainda ressoam hoje.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.

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