Crítica: Bel-Air traz um novo olhar sobre uma história conhecida

Critica da primeira temporada de Bel-Air, remake dramático da sitcom dos anos 90 conhecida no Brasil como Um Maluco no Pedaço.

Bel-Air

Seguimos na era dos reboots, remakes, revival e sequências legado. BelAir, remake dramático da famosa sitcom dos anos 90, Fresh Prince of Bel-Air, é a mais nova adição a essa lista. Conhecida no Brasil como Um Maluco no Pedaço, a série teve grande importância na vida de Will Smith que passou a ganhar notoriedade e fama graças ao sucesso da sitcom que durou seis temporadas. Inclusive, no ano passado ganhou um especial na HBO Max reunindo todo o elenco original.

Agora, mais de 30 anos desde o piloto original, o serviço de streaming americano Peacock produz um remake da popular sitcom. Uma versão dramática e mais realista sobre a vida do povo negro no cenário americano atual, apresentando uma nova visão dos famosos personagens que o público conhece. Smith está envolvido no projeto, desta vez por trás das câmeras como produtor executivo.

Utilizando a premissa de choque cultural, a trama central permanece a mesma. Um adolescente negro e humilde se muda para mansão dos tios em Los Angeles visando receber uma educação melhor, bem como melhores oportunidades. No entanto, desta vez o roteiro explora elementos mais complexos dessa transição.

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A nova abordagem acerta em apresentar um tom mais sério. Em tempos de “black lives matter“, onde as vidas de pessoas negras são ameaçadas diariamente e suas oportunidades ceifadas, enquanto tudo é documentado nas mídias sociais e na TV.

Produção acerta na abordagem e no desenvolvimento dos personagens

Bel-Air
Imagem: Divulgação.

Após se envolver em um incidente com arma de fogo e com o líder da gangue local, o jovem Will Smith (Jabari Banks) passa uma noite na prisão. Temendo pela segurança de Will, sua mãe recorre ao marido advogado de sua irmã. Depois disso, a vida do jovem Will começa a mudar.

Trocando a Filadélfia pela ensolarada Califórnia, ele tem a chance de se reaproximar de sua família. A chegada do jovem, dessa forma, mexe com a estrutura familiar, e quem mais sente isso é o primo Carlton (Olly Sholotan), o popular aluno da escola e menino de ouro da família.

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Em BelAir, portanto, a rivalidade entre os dois vai muito além da provocação de primos da versão original, trazendo conflitos envolvendo drogas e inseguranças. Apesar da relação conflituosa com o primo, Will cria laços com as primas sem problemas.

Hilary (Coco Jones), a influenciadora digital da gastronomia, tem uma jornada interessante. A discussão sobre identidade e o quão tóxico pode se tornar a busca por fama nas redes é muito atual. A atriz esbanja carisma e sempre rouba a cena, enquanto Ashley (Akira Akbar) está mais atenta a movimentos sociais, questões sobre justiça e igualdade para as minorias.

Tia Vivian (Cassandra Freeman), uma artista plástica, também é afetada pela chegada do sobrinho. A energia e a luz de Will reacendem nela sua paixão pela pintura. Assim como na versão original, o roteiro explora a relação paterna que Will cria com o tio Phill (Adrian Holmes), embora aqui acrescente um pouco de drama e conflito.

A nova abordagem, no entanto, traz uma reviravolta ao espectador acostumado com a atmosfera divertida da série dos anos 90. Os personagens com personalidades tão díspares são colocados em novos lugares que possibilitam levantar novos temas para discussão e reflexão.

Vale a pena maratonar BelAir?

O roteiro contextualiza e atualiza bem a trama para os dias de hoje. Apresenta as problemáticas de ser uma pessoa negra numa sociedade racista dominada por pessoas brancas com poder e dinheiro. Entretanto, em alguns momentos decisivos, as emoções ficam na superficialidade, faltando um aprofundamento maior. Representatividade não é suficiente. Mas o roteiro parece ser consciente o suficiente para se autocriticar ao declarar que a poderosa família Banks vive em uma bolha, e seu retrato não reflete a imagem verdadeira das famílias negras na América.

Transformar uma sitcom de sucesso adorada pelo público em um drama é uma decisão ousada e difícil. O resultado é uma releitura atualizada de um clássico que pode não conversar muito com o público nostálgico, mas pode dialogar com o público mais jovem. Vale ressaltar que o diretor Morgan Cooper chamou atenção ao produzir em 2019 um trailer viral sobre a sitcom. Will Smith se interessou pelo material e assim nasceu a nova BelAir.

O jovem ator Jabari Banks entrega um bom trabalho em cena, ainda que seja estranho ouvir o nome Will Smith e o rosto não ser compatível com o nome. A trilha sonora ajuda a dar identidade à série, sendo um dos acertos da produção. E os olhos mais atentos vão identificar a participação de Daphne Reid, a atriz que interpretou a segunda Tia Vivian na versão original.

Em conclusão, apesar do final dramático, faltou mais impacto, mas isso não prejudica a série. BelAir entrega um resultado positivo. Com uma segunda temporada garantida, a produção precisa aplicar algumas correções em sua escrita. E ainda que uma parte do público nostálgico não abrace o novo, nada apaga o original. E Um Maluco no Pedaço sempre poderá ser visto e revisto a qualquer momento.

Nota: 3/5

Sobre o autor
Yuri Moraes

Yuri Moraes

Redação

Yuri Moraes é formado em Direito e Marketing Digital e atualmente cursa Produção Cultural. Morador do Rio de Janeiro, sempre foi um grande apaixonado por conteúdo audiovisual e o universo da cultura pop. Um cinéfilo declarado, um seriador nato. Formado em teatro, descobriu sua paixão pela escrita e desde então vem estudando e se capacitando como escritor. Redator do Mix de Séries desde 2016, se desenvolveu como profissional da área e já colaborou com diversos textos em formato de críticas, reviews semanais e notícias. Através de seus textos busca sempre apresentar uma análise pessoal, técnica e sincera das produções que assiste, sem deixar o bom humor de lado. Sempre atualizado nos assuntos do momento, faz cobertura de diversos eventos representando o site. Outra paixão que caminha lado a lado é produção de eventos. Colecionando em seu currículo experiências em grandes eventos, possui verdadeira paixão em fazer parte do processo de construção e execução de eventos culturais. Com isso, equilibra seu trabalho de departamento pessoal com o ofício de escritor e produtor cultural.

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