Crítica: La Casa de Papel Coreia não arrisca e repete fórmula

Critica da primeira temporada de La Casa de Papel Coreia, remake coreano do drama espanhol produzido pela Netflix.

Crítica La Casa de Papel Coreia

A Netflix é uma máquina de produção de conteúdo, isso é inegável. La Casa de Papel é um bom exemplo. Alguns títulos são ótimos, enquanto outros beiram a vergonha alheia. Mas duas coisas podemos afirmar, a série sobre os assaltantes com máscaras de Salvador Dalí foi um sucesso inesperado, e o público de dorama (k-drama) encontrou no streaming um bom lugar para assistir esse tipo de conteúdo.

Depois dos sucessos recentes de Round 6 e All of Us are Dead, a Netflix apresenta aos seus assinantes uma nova opção de entretenimento made in Coreia.

O remake coreano do drama espanhol, que se tornou um fenômeno no mundo todo, mantém a estrutura original, em um cenário distópico. Na história de La Casa de Papel Coreia (Money Heist: Korea) acompanhamos um grupo de ladrões executando o maior assalto a banco da península coreana. A Casa da Moeda da Coreia Unificada.

Um homem misterioso conhecido como O Professor recruta um grupo de pessoas com habilidades bem específicas para cumprir a missão e entrar para a história como o maior roubo do século. No entanto, unir pessoas tão diferentes acaba trazendo conflitos e problemas inesperados, forçando o grupo a tomar decisões desesperadas.

Os fãs da série original podem receber a produção de La Casa de Papel Coreia com certa estranheza, principalmente por ouvir codinomes como Professor, Tóquio, Nairobi e não ver o elenco espanhol. Mas uma coisa é certa, apesar do novo elenco e cenário, o senso comum será de familiaridade. Seja para os fãs de dorama ao reconhecer os rostos do novo elenco. Seja pela trama quase idêntica à versão espanhola e no estilo da produção que se mantém fiel ao original.

Série apresenta uma versão distópica da Coreia, mas não entrega muitas novidades

Imagem: La Casa de Papel: Coreia

Situada em 2025, La Casa de Papel Coreia apresenta as Coreias do Norte e Coreia do Sul em processo de unificação. Sem mais guerras, as fronteiras estão abertas e todos estão livres para ir e vir. Inclusive artistas de K-pop como BTS não estão mais banidos no Norte. Dessa forma, é fundada a Área de Economia Conjunta (AEC). Com essa união, esperava-se que todos os coreanos se beneficiassem, trazendo novas oportunidades de negócios e uma moeda compartilhada. 

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No entanto, não demora muito para a realidade do capitalismo atingir a todos. Os ricos ficam ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Assim, surge uma nova realidade de desigualdade, e é nesse cenário que o enigmático Professor arquiteta seu plano e recruta seu time.

Infelizmente, o remake coreano se revela uma adaptação fiel até demais. Sem muita ambição de entregar novidades, a produção repete inúmeros momentos-chave da série original, até mesmo alguns diálogos e os famosos codinomes. Dinâmicas no grupo, conflitos e relacionamentos entre os personagens recebem o mesmo tratamento que a versão da Espanha.

Unificação das Coreias é a grande novidade de La Casa de Papel Coreia

Duas grandes diferenças mais sentidas em La Casa de Papel Coreia, o cenário distópico apresentando a unificação das Coreias do Sul e do Norte, e as personalidades de alguns assaltantes que foram alteradas para contextualizar a trama.

Os minutos iniciais são promissores introduzindo essa nova realidade do território coreano utilizando Tóquio como a porta-voz em um discurso poderoso. A ideia do conflito político é interessante. Mas não demora muito para a série reproduzir os mesmos acontecimentos que os fãs já conhecem.

Diante de toda narrativa apresentada, o roteiro desperdiça a chance de levar a trama para novos rumos.

A adição de elementos culturais poderia ser muito mais eficiente, porém deixa tudo na superficialidade, se acovardando na zona de conforto e reprisando a mesma história já conhecida pelo grande público. A crítica social não é tão eficaz, mas torna evidente que o inimigo é a elite que não se cansa de explorar os mais pobres para se beneficiar com o resultado.

O roteiro se mostra mais interessante ao ressaltar que apesar da unificação ainda existem conflitos. O próprio Berlim promove uma separação entre os reféns do Norte e do Sul, incitando ainda mais esse conflito durante o assalto.

Vale a pena assistir La Casa de Papel Coreia?

La Casa de Papel Coreia
Imagem: Divulgação.

Em conclusão, La Casa de Papel Coreia parece se apoiar em sua reviravolta geopolítica enquanto se mantém presa à trama principal. A sensação de dejá vu, bem como as comparações são inevitáveis. Mas, apesar da previsibilidade, a trama em alguns momentos abraça outras direções. No entanto, não explora essas novas oportunidades. A tensão política entre os dois governos explode durante o assalto e deve ganhar mais desenvolvimento nos novos episódios. 

Trazendo esse cenário único, o remake tem a oportunidade de se distanciar da obra original e criar sua própria identidade. Tóquio em suas narrações destaca as disparidades econômicas provocadas pela unificação e a situação dos trabalhadores imigrantes. A divisão entre Norte e Sul é discutida dentro e fora da Casa da Moeda.

Igualmente, as origens dos personagens se colidem revelando suas motivações. Logo, a série precisa arriscar mais e seguir novos rumos para surpreender o público e não apenas entregar um “Ctrl C + Ctrl V”.

A produção coreana repete a fórmula que deu certo para Espanha e, mesmo que não consiga surpreender seu público, ela entretém e diverte mostrando a história imaginada de novo em outro lugar. A direção mantém um bom ritmo e também alterna cenas do assalto com flashbacks, revelando mais sobre cada membro do grupo e sobre o planejamento do assalto.

Mas, em alguns momentos La Casa de Papel Coreia beira o exagero, seja nos acontecimentos ou até mesmo na atuação. Para quem gosta de torcer por casais a notícia não é boa. A série apresenta casais sem química, tornando difícil o desejo de torcer por eles.

Afinal, é cedo demais para um remake?

A versão original se despediu há cerca de seis meses, então não parece uma decisão muito inteligente já investir em um remake. Principalmente com a produção se mantendo tão fiel à obra original. Mas a série acerta ao adaptar o material original de forma mais acelerada. Vai direto ao ponto e conecta os momentos-chave da história.

Os seis episódios da primeira temporada de La Casa de Papel Coreia entregam tudo que o público já conhece, com poucas alterações. A ação apresentada é suficiente para dar um pouco de diversão ao público. Só resta saber se dessa vez o crime realmente vai compensar.

Nota: 2.5/5

Sobre o autor
Yuri Moraes

Yuri Moraes

Redação

Yuri Moraes é formado em Direito e Marketing Digital e atualmente cursa Produção Cultural. Morador do Rio de Janeiro, sempre foi um grande apaixonado por conteúdo audiovisual e o universo da cultura pop. Um cinéfilo declarado, um seriador nato. Formado em teatro, descobriu sua paixão pela escrita e desde então vem estudando e se capacitando como escritor. Redator do Mix de Séries desde 2016, se desenvolveu como profissional da área e já colaborou com diversos textos em formato de críticas, reviews semanais e notícias. Através de seus textos busca sempre apresentar uma análise pessoal, técnica e sincera das produções que assiste, sem deixar o bom humor de lado. Sempre atualizado nos assuntos do momento, faz cobertura de diversos eventos representando o site. Outra paixão que caminha lado a lado é produção de eventos. Colecionando em seu currículo experiências em grandes eventos, possui verdadeira paixão em fazer parte do processo de construção e execução de eventos culturais. Com isso, equilibra seu trabalho de departamento pessoal com o ofício de escritor e produtor cultural.

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