A verdade sobre o erro de Criminal Minds que fãs não viram

Criminal Minds foi um sucesso, mas não está livre de erros. Um dos tropeços é ao traçar os perfis dos criminosos. Descubra a verdade.

Criminal Minds erro

Drama criminal às vezes exagerava na dose e se equivocava em algumas afirmações

É raro um filme ou série de TV retratar uma profissão da vida real com 100 por cento de precisão factual. Às vezes, o realismo não é o ponto. Outras vezes, os cineastas fazem escolhas deliberadas para tentar tornar uma profissão mais visualmente interessante. 

Neste sentido, verdade seja dita, filmes e TV são frequentemente responsáveis ​​pelos equívocos do público sobre certas profissões, o que apenas torna mais difícil para as pessoas nessas áreas realizarem esses trabalhos. Logo, um dos exemplos mais famosos é o “efeito CSI”, que alguns promotores dizem ser responsável por distorcer a forma como os jurados tomam decisões. Isso nos leva ao programa Criminal Minds, que exibiu mais de 300 episódios de 2005 a 2020. A série foi um sucesso, mas também não foi uma representação muito precisa dos perfis criminais.

Recentemente, o portal Looper conversou com o Dr. John Paul Garrison, um psicólogo clínico e forense, bem como um especialista certificado em transtorno de personalidade. O Dr. Garrison discutiu algumas das maneiras pelas quais Criminal Minds interpretou mal os perfis de criminosos.

Análise de caligrafia

Criminal Minds tornou a análise de caligrafia uma ferramenta muito mais poderosa do que realmente é.

No episódio “Last Word“, da segunda temporada do programa, o Dr. Reid (Matthew Gray Gubler) usa a letra de um suspeito para diagnosticar seu estado emocional. De acordo com Reid, as formas das letras individuais são indicativas da personalidade de uma pessoa.

Assim, embora a análise de caligrafia tenha sido usada para identificar criminosos – ela foi usada para ajudar a capturar o assassino BTK Dennis Rader, por exemplo – não é um teste de personalidade. “O padrão para a avaliação baseada em evidências é se os resultados e interpretações relevantes seriam válidos em um tribunal de justiça.”, disse o Dr. Garrison a Looper. “Avaliações empíricas, como testes de QI, são muito boas e têm um corpo de pesquisa rico e consistente que prova que esses testes são confiáveis ​​e válidos.

Logo, a análise de caligrafia desse tipo é considerada um “teste projetivo”, em vez de uma avaliação baseada em evidências. De acordo com o Dr. Garrison, “os testes de projeção, como o Rorschach, muitas vezes não funcionam bem sob o escrutínio de um advogado astuto e têm pesquisas empíricas muito menos rigorosas para provar sua validade.”.

Imagem: Divulgação.

A ideia de que a demora na leitura é uma característica suspeita

No sexto episódio da sétima temporada, “Epílogo“, o Dr. Reid observa um suspeito que está demorando mais do que o normal para ler uma página de uma revista. Normalmente as pessoas levam 11 minutos e 17 segundos para virar a página (sim, o Dr. Reid cronometrou), mas desta vez o suspeito levou 16 minutos e 24 segundos. Dr. Reid conclui que algo deve estar errado. Convenientemente, o Dr. Reid nunca se preocupa em mencionar exatamente o que está errado, ou de onde ele teve essa ideia para cronometrar a leitura do suspeito em primeiro lugar.

Um ‘profiler’ fazendo isso é pura fantasia.“, disse o Dr. Garrison a Looper. “Pode-se observar que um suspeito passou um pouco mais de tempo lendo um determinado artigo ou examinando sua reação emocional inconsciente, mas os tempos precisos são essencialmente sem sentido. Assim, se você não pode explicar razoavelmente a um júri por que 11 minutos e 17 segundos para ler um artigo tem algum raciocínio científico específico apoiado por pesquisas, não é especialmente útil como evidência de nada.”.

Perfil criminal

Na terceira temporada, em “Lo-Fi”, Prentiss (Paget Brewster) e Cooper (Erik Palladino) estão disfarçados. Quando Cooper descreve o perfil de criminosos como “leitura da sorte”, Prentiss dá a ele uma demonstração do que realmente é o perfil. De acordo com Prentiss, é apenas observar o comportamento. Prentiss, então, conta várias coisas que ela observou sobre a personalidade de Cooper, que lhe dizem que ele é leal, ex-militar e respeita a cadeia de comando.

De acordo com o Dr. Garrison, esta parte da cena é precisa. Quando Prentiss conclui que Cooper protege instintivamente seu distintivo quando se sente desrespeitado, essa é uma interpretação válida.

Mas então Prentiss vai longe demais. Com base no fato de que ele tem duas marcas de caneta diferentes em sua mão esquerda, ele tem uma criança que está aprendendo a desenhar. Ela ainda conclui que Cooper é dedicado à esposa, embora ele seja sedutor e não use sua aliança de casamento.

Imagem: Divulgação.

Dr. Garrison descreveu a cena como uma interpretação absurda, bem no estilo Sherlock Holmes, que não é baseada no comportamento real de Cooper. “Tudo isso está além de qualquer um que tente usar uma abordagem científica para traçar perfis. A interpretação sobre um comportamento geralmente vem da experiência e do conhecimento. Ela tem muito poucos dados para fazer afirmações tão fortes e específicas.“, disse ele a Looper.

Portanto, cuidado: caso você tenha marcas de caneta diferentes na mão, é possível que tenha um filho em casa e nem estava sabendo…

Antissocial

Além disso, em uma cena de briefing, durante a 6ª temporada, no episódio “Sense Memory“, Reid, Hotchner (Thomas Gibson) e Rossi (Joe Mantegna) dão ao LAPD um perfil preliminar do suspeito da semana. Eles preveem que o suspeito é o operador de um táxi não licenciado. Eles especulam, então, que ele é um psicopata com inteligência extremamente acima da média – o que eles acrescentam é um traço comum entre “verdadeiros psicopatas”. Finalmente, eles o descrevem como “antissocial”, embora seu trabalho envolva interagir com o público.

No entanto, Dr. Garrison apontou várias imprecisões aqui. Em primeiro lugar, está a ideia de que verdadeiros psicopatas são altamente inteligentes. Na realidade, a pesquisa mostrou que o oposto é verdadeiro.

Mas o maior problema é o uso da palavra “antissocial”. Leigos usam “antissocial” para significar “alguém que não gosta de ser social“. O termo na verdade indica “alguém antagônico à sociedade ou às normas sociais”, disse o Dr. Garrison a Looper. “É alguém cujo comportamento é destrutivo em relação às normas sociais.”

Criminal Minds erro
Imagem: Divulgação

Desta forma, o suspeito provavelmente é antissocial no sentido clínico, mas, neste contexto, um perfil criminoso teria descrito seu comportamento como “não social”, em vez de “antissocial”. E, de acordo com o Dr. Garrison, um verdadeiro investigador psicológico nunca se enganaria.

O crime não compensa, mas faz sucesso

A investigação de um perfil criminal e a profissão do profiler tem ficado cada vez mais famosa. Livros sobre o assunto têm feito sucesso por aqui e séries como Mindhunter tem popularizado a difícil arte de decifrar a mente de um criminoso. Criminal Minds fez sucesso ao brincar com o tema, mas é importante manter-se alerta para o que é real e o que é puramente ficção.

Enfim, e aí,  achou que tudo que acontecia em Criminal Minds era verdade? O que você já sabia que era mentira? Então deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades do Mix de Séries.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.

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